Nossa casa é uma casa de ingredientes!
O misterioso caso de uma geladeira que está cheia enquanto os habitantes da casa reclamam que não tem nada para comer.
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Já aconteceu com vocês de ir ao supermercado enquanto vestia a skin saudável, comprar muitos ingredientes e depois chegar em casa e se arrepender por não ter comprado nenhuma guloseima? É raro, mas acontece muito.
Paula recentemente escutou do filho adolescente que ela é uma mãe de ingredientes e não uma mãe de comidas prontas. hahahaha. Rimos muito e depois comentamos que esse é um ótimo elogio. Aqui em casa também somos uma casa de ingredientes. Raramente compramos preparos prontos e ultraprocessados não costumam nem entrar no nosso carrinho de compras.
Às vezes, viver em uma casa de ingredientes pode até deixar a sensação de que não tem nada para comer. Mas a gente promete: tem sim! E inclusive queremos compartilhar algumas dicas para ter sempre “ingredientes” prontos para o consumo, de maneira prática, para garantir um lanchinho ou uma refeição express.
Ex: frutas e verduras higienizadas na geladeira, ovos cozidos, macarrão na despensa e etc.
❄️❄️ Um repertório inteligente de preparos coringa no freezer pode ter um valor imensurável! A gente defende tanto os benefícios do uso do freezer como um grande aliado do planejamento alimentar que já fizemos três news com esse tema. Para ler, é só clicar aqui.
💨🔥 A Airfryer também tem seu valor para agilizar preparos. Grandes entusiastas que somos, já fizemos até um manual desse amado eletrodoméstico.
Nossa relação com os ingredientes
[Luisa] Eu sempre fui muito acostumada a viver em uma casa de ingredientes, desde a minha infância. Eu morei na fazenda até os 14 anos de idade e a grande maioria de tudo o que consumíamos em casa era produzido na fazenda. As verduras da horta, as frutas do pomar, os ovos das galinhas felizes. A minha mãe sempre tirou leite, fez manteiga e queijo em casa. Sempre criamos frangos e bois para consumo próprio. Meu pai cuidava dos peixes no açude, das abelhas que produziam todo o mel que consumíamos.
Quando a gente queria comer pastel, minha mãe rapidamente fazia massa de pastel. E sim, minha mãe faz tudo rapidamente, é impressionante. Eu cresci vendo a minha mãe fazer pão, biscoitos, bolachas, pão de queijo. Massa fresca, certamente é uma das memórias mais vivas da minha infância. As compras no supermercado incluíam mais ingredientes: açúcar, óleo (basicamente para fritar, porque na fazenda utilizam banha para cozinhar), farinha, arroz. Resumidamente, comprávamos somente o que não era produzido na fazenda. Feijão, por exemplo, sempre tinha de produção própria ou de algum vizinho.
Saber transformar ingredientes em alimentos é um recurso muito valioso. Preparar a própria comida é libertador. Já escrevemos news sobre esse tema, clique aqui para ler. Para mim, foi importante ter essa familiaridade com ingredientes até para facilitar a primeira experiência internacional, por exemplo. Quando eu me casei, fui morar na Guiana com Rodrigo. Os supermercados na Guiana [entre 2009 e 2011] tinham uma disponibilidade volátil de ingredientes. Nem sempre funcionava fazer o planejamento dos cardápios em casa e sair para fazer as compras. Muitas vezes tínhamos que chegar no supermercado, avaliar a disponibilidade de ingredientes e a partir daí montar o cardápio. Teve a temporada de escassez de ovos. A temporada que quase não se encontrava frango. Para comprar carne bovina, era preciso ter um "contato" no açougue [a Guiana tem uma grande parcela da população que é hindu e considera a vaca um animal sagrado]. Existia 1 tipo de pão de forma que vendiam no supermercado e não era delicioso. Foi um dos períodos em que eu mais fazia pães em casa.
Depois da Guiana, nos mudamos para Washington, DC - o paraíso dos ultraprocessados. Posso afirmar com orgulho que a disponibilidade de refeições prontas, fast food e opções ultraprocessadas com preços baixos não corromperam minhas raízes. Eu geralmente cozinhava aos finais de semana e deixava muitas marmitas organizadas para os almoços da semana (na época eu também trabalhava fora e tanto Rodrigo quanto eu levávamos marmita para o almoço). Saudades Trader Joe’s! Foi morando nos EUA que conheci o COSTCO, e sigo uma grande entusiasta desse supermercado. Vide o vlog dessa semana.
Quando chegamos no Uruguai, que foi onde aconteceu a minha transição de carreira, ingressei no colégio de Gastronomia e aí sim consolidei a valorização pelo ingrediente de forma ainda mais concreta. Depois das primeiras aulas do curso de cozinha, por exemplo, nunca mais preparei nada com um cubinho de caldo ultraprocessado. Tema inclusive super atual, o reels de ontem foi justamente compartilhando uma técnica prática que faço em casa para ter um caldo caseiro e super saboroso sempre disponível para enriquecer os meus preparos.
A partir do momento que construímos hábitos de consumir alimentos preparados em casa, utilizando técnicas e combinações de ingredientes de qualidade, é muito difícil aceitar o sabor dos ultraprocessados. Apesar de todos os aditivos e realçadores de sabor, uma lasanha congelada ultraprocessada jamais vai superar um preparo artesanal bem executado. E os ingredientes, importam, viu? Foi até tema da última news!
[Paula] Minha casa não teve essa riqueza de ingredientes e minha mãe não tem essa habilidade toda na cozinha. Ela dá muitas dicas e palpites mas colocar a mão na massa são outros quinhentos (te amo mãe kkkk). A minha história foi completamente diferente, minha infância nunca foi de biscoitos recheados e ultraprocessados mas o meu conhecimento sobre o assunto era o que as revistas diziam que era saudável… Eu só fui entender realmente do assunto e a grande verdade das comidas ultraprocessadas na faculdade. Na introdução alimentar dos meus filhos, que teve direito a gelatina e achocolatados com orientações do pediatra, eu me lembro da minha irmã (que é dentista e já tinha algum conhecimento do assunto) lendo os ingredientes e mandando deixar na prateleira tudo que tinha xarope de glicose, açúcar invertido, xarope de milho e etc pois eram altamente cariogênicos. Ir ao supermercado com ela (saudades da época que a gente ia ao SAMS club) era uma gincana porque depois de ler a lista de ingredientes dos produtos, fica impossível colocar alguns itens no carrinho. E foi assim me tornei uma mãe de de ingredientes. Waffle, faço em casa. Panquecas, faço em casa. Cookies, biscoitinhos, faço em casa. Tem sempre? Claro que não! Mas quando faço não uso gordura hidrogenada, açúcar invertido, xaropes, corantes, flavorizantes, aromatizantes e etc. Desafio vocês a encontrarem um lanchinho pronto sem esses aditivos alimentares.
Vale a pena lembrar que existe uma escolha da indústria alimentícia de buscar o que é mais barato em detrimento ao mais saudável ou melhor para o consumidor. Para a indústria, é muito mais fácil adotar certos insumos para produzir com menor custo, maior velocidade, mais facilidade e com melhor desempenho do ponto de vista financeiro.