Senta que lá vem comida...
Porque todos merecem comer bem independente de escolhas, restrições, alergias ou simplesmente preferências.
Obrigada por ser um assinante Pitadas Acostuma! Considere migrar para o nosso plano pago, receber conteúdos exclusivos, acessar nosso arquivo e apoiar o nosso trabalho. Agradecemos imensamente a todos os apoiadores da nossa newsletter - vocês viabilizam o nosso trabalho!
[LZ] Quando recebo um convite para um almoço ou jantar e me perguntam sobre restrições alimentares, eu sou uma daquelas pessoas sortudas que responde: "como de tudo". Mas essa não é a realidade para todos, conheço cada vez mais pessoas com necessidades alimentares muito mais complexas e específicas. Celíacos, diabéticos, pessoas com alergias severas. Como é frustrante ser a pessoa que não consegue sair para jantar sem ter que explicar o que não pode comer e por quê. E isso antes mesmo de entrarmos em questões de não consumir categorias inteiras de alimentos por razões religiosas ou éticas.
Em um mundo com gostos tão variados, não existe um prato de aceitação universal. Mas não acho que seja má ideia, como anfitriã, pensar em algumas possibilidades de pratos deliciosos que você goste de cozinhar, para diferentes ocasiões e dietas, sem ficar com nenhum tipo de ressentimento em relação ao processo.
Servir à moda familiar, com vários pratos colocados na mesa para que cada um selecione o que servir no seu prato, geralmente é mais acolhedor do que servir tudo já montado em pratos individuais. É uma maneira muito sensível e flexível de servir comida, que permite acomodar melhor diferentes gostos e apetites.
Outro formato que funciona bem para acomodar diferentes dietas e preferências é um esquema "monte o seu prato". Uma estação de sanduíches, por exemplo. E cada pessoa pode escolher o recheio/molho/complemento que mais apetecer.
Utilizar o conceito de servir um complemento mais picante, por exemplo, separado e não diretamente na comida também tende a ser mais inclusivo. Você pode servir até a carne separadamente. Se estiver cozinhando para um grupo majoritariamente vegetariano, mas souber que há uma pessoa – sim, elas existem – que não tolera um jantar sem carne, você pode servir uma pequena porção de proteína animal à parte.
A primeira regra de cozinhar para os outros, seja uma refeição simples para amigos e família ou algo mais elaborado para muitos convidados, é preparar algo que você realmente goste de comer. Assim, pelo menos uma pessoa na mesa estará feliz e, curiosamente, felicidade é contagiosa. Se você oferece comida com o espírito de "acho isso delicioso e espero que você também goste", é mais provável que tenha uma resposta positiva do que se oferecer o prato com dúvidas, desculpas ou ansiedade em impressionar. Uma boa forma de receber sem estresse é não fazer uma grande diferenciação entre comida feita para receber e a comida que se come no dia a dia.
Cozinhar um preparo que você está familiarizado tem uma probabilidade muito maior de resultar em uma refeição deliciosa. Uma das frases mais arriscadas para se dizer quando convidados chegam na sua casa é: "Estou testando essa receita com vocês. Nunca fiz antes. Parecia bem interessante."
💭 Você tem o hábito de consultar os convidados sobre restrições alimentares antecipadamente? Já vivenciou alguma situação inusitada por causa de alguma restrição alimentar? Conta aqui pra gente!
E como receber convidados exigentes ou com restrições alimentares muito diversas ou até com gostos diferentes dos seus? Para mim a resposta é: sendo sensível.
Muitos cozinheiros se sentem desanimados ao planejar uma refeição e ver metade das possibilidades descartadas porque muitos convidados têm intolerâncias alimentares, são veganos, estão de dieta ou simplesmente têm uma longa lista de alimentos que detestam. Mas vale lembrar que, por mais incômodo que possa ser para o cozinheiro nessas situações, é ainda mais difícil ser o convidado que precisa explicar repetidamente que não pode comer glúten, carne ou frutos do mar, sem querer causar incômodo a ninguém.
A responsabilidade é nossa, como cozinheiro ou anfitrião, de fazer com que os convidados sintam que suas restrições alimentares não são nenhum problema, e de cozinhar para eles com o máximo de carinho que conseguirmos oferecer.
Quando você toma a decisão generosa de cozinhar para os outros, não está esperando que tudo corra sempre perfeitamente – mas isso não significa que não valha a pena. O segredo é tentar fazer da sua mesa um lugar onde todos os comensais sejam bem-vindos, não importa quão diferentes sejam seus hábitos e preferências: venham todos.
Vai receber em casa? Por favor, consulte os convidados sobre suas restrições alimentares. É a melhor maneira de evitar frustrações e garantir o sucesso de uma refeição. E sendo convidados, ao serem perguntados, sejam honestos. Não se acanhem, não sejam tímidos. Imagina a torta de climão quando o convidado respondeu que comia de tudo e na hora que você está cortando o rosbife comenta algo do tipo: ‘não como carne vermelha há 10 anos.’ Socorro!
E nós, como cozinheiros, sejamos responsáveis para levar a sério as restrições. Estar atentos a contaminação cruzada com celíacos ou alérgicos a nozes/castanhas, por exemplo. Questões de saúde inegociáveis.
A restrição alimentar existe e não é frescura. O que você precisa saber:
[PV] Todo mundo conhece (ou já foi) uma criança que torce o nariz para texturas, sabores e pratos diferentes. É comum, especialmente nos primeiros anos, que os pequenos sejam seletivos, principalmente se têm sensibilidades sensoriais, temperamento mais retraído ou alguma condição de saúde ou neurodivergência.
Mas, em alguns casos, essa seletividade vai além. A hora da refeição vira um campo de batalha com crianças chorando na frente do prato e pais exaustos e completamente esgotados. Ninguém da família consegue aproveitar uma refeição em paz. É o caos instalado.
Quando esse cenário se prolonga e começa a afetar a saúde, o crescimento ou o convívio familiar, pode ser um sinal de ARFID (Avoidant/Restrictive Food Intake Disorder), ou em português TARE (Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo).
O ARFID não é “manha”, nem falta de limites. É um transtorno alimentar reconhecido, que costuma se apresentar com muito estresse, ansiedade e tentativas frustradas de “resolver” o problema com dicas soltas, promessas ou ameaças que só pioram a relação com a comida.
Nem toda criança seletiva “melhora com o tempo”. Muitas vezes, ela cresce e a restrição cresce junto. Adultos que não foram expostos com leveza e constância a uma variedade de alimentos durante a infância, ou que viveram experiências negativas à mesa (pressão, chantagem, vergonha), podem carregar uma relação difícil com a comida até a vida adulta.
Essa restrição pode ser silenciosa. Às vezes, a pessoa já criou estratégias sociais para disfarçar. Ela evita convites para jantar, só come o que conhece, finge que já comeu antes de sair, mas o desconforto está ali e a vergonha também.
Não é frescura. Não é falta de educação. É uma história pessoal com a comida que não foi escrita com cuidado e que ainda dá tempo de reescrever.
Com acolhimento, paciência e uma orientação respeitosa, é possível reconstruir a confiança à mesa.
O paladar pode mudar?
Comer de tudo não é um dom, nem uma obrigação. É algo que se aprende, que se constrói ao longo do tempo. E se esse aprendizado não aconteceu lá atrás, na infância, dá trabalho reaprender depois mas não é impossível!
Ampliar o repertório alimentar na vida adulta exige curiosidade, intenção e um certo grau de desconforto. É experimentar com a consciência de que pode não gostar e tudo bem. É se permitir pequenos testes, sem a cobrança de virar “a pessoa que come de tudo” da noite para o dia. Mas, acima de tudo, é uma escolha.
A mudança só começa quando a vontade parte da própria pessoa e não da pressão social, do julgamento alheio ou da vergonha.
Se há desejo genuíno de viver uma relação mais leve com a comida, o caminho existe. Cada alimento novo experimentado, cada refeição sem medo, cada tentativa por menor que pareça é uma conquista. E merece ser celebrada.
Abaixo mensagens trocadas com minha paciente que começou a experimentar frutas. Celebramos todas as conquistas! Fiquei feliz demais!
Beijos,
Luisa e Paula
Amei o tema da semana. Eu mesma fico tensa quando vou almoçar na casa de alguém. É senso comum que frango com quiabo é comida de mineiro. Mas eu, mesmo sendo mineira, decidi na infância odiar quiabo. Não consigo, a textura não me faz bem. Daí, sempre que recebo um convite fico orando pra pessoa não fazer o frango com quiabo. Primeiro porque eu não gosto mesmo. Segundo porque ninguém admite um mineiro que não curte a iguaria.
De igual modo minha irmã, mineira que não come angu. A outra irmã, mineira que não come queijo, não come manteiga… é da pessoa!
Amei o tema!♥️
Ah, detesto coentro & pimenta de cheiro, hem?! Haha! A lista é grande!
Beijo, meninas!♥️
Adorei o tema desta semana! Eu sou a cozinheira que acha divertido cozinhar com restrições pq ativa a criatividade. A gente se obriga a pensar diferente sobre comida quando tem um desafio desses, muitas vezes saem combinações maravilhosas.